Em Ananda Marga, quando o assunto é kiirtan, logo se pensa no canto de Baba nam kevalam. Entretanto, existem diferentes tipos de kiirtan, não apenas porque o gênero existe em outras tradições – como entre os Hare Krishnas – como também porque o kiirtan pode ser executado de maneiras variadas. Você sabia?
“Existem nama kiirtan, pada kiirtan e katha kiirtan. Nama kiirtan significa ‘cantando o nome do Senhor apenas’, como em Baba nam kevalam’. Esse é o mais popular no Ocidente. Em Rahr, na Índia, é um dos mais dinâmicos e desenvolvidos gêneros de música desde que ele foi inventado por Caitanya Mahaprabhu, no século XV”, explica Joyshna la Trobe, proeminente cantora e compositora de kiirtans e doutora em etnomusicologia pela Escola de Estudos Orientais e Africanos, em Londres, Inglaterra.
Rahr, a região onde ela concentrou seus estudos, é considerado um berço do kiirtan, e Anandamurti discorreu em seus discursos sobre esse legado. Em um desses discursos, ele afirma que teria sido em Rahr a origem dos Vaishnavite padávalii (versos) e os mahájaniiya kiirtanas. “Pada significa ‘verso”, em Rahr, entretanto já era um gênero estabelecido antes do tempo de Caetanya Mahaprabhu”, explica Jyoshna. Ela cita o Giitagovinda, kiirtan escrito por Jayadeva no século XI, para exaltar o amor entre Radha e Krishna. Ela conta que pada kiirtan é também conhecido como “kiirtan da canção”. “São escritos em louvor ao Amado, podem ser em qualquer língua e há muitos exemplos de canções de kiirtan no Cristianismo, por exemplo, no movimento Hare Krishna, no Sufismo, entre outros. Na Ananda Marga, nós temos nossas próprias canções de kiirtan, compostas por Baba no Prabhat samgiita, assim como por margiis”.
Por fim, existe o katha kiirtan, em que “ouvimos histórias do divino, de Baba, do nosso caminho espiritual e de nossa meta”, como conta Jyoshna. Em um de seus discursos, Baba explica que, em sânscrito, “katha” significa “longa história”. Segundo Jyoshna, no caso do katha kiirtan, trata-se de um espaço para compartilhar experiências com a graça divina, bençãos e realizações do divino no cotidiano, num formato em que cada história é intercalada por uma canção ou um canto de kiirtan. “Na minha experiência, todo mundo tem uma história para contar sobre como chegaram no caminho espiritual”, afirma.
Além dos tipos de kiirtan conceituados por Jyoshna, a filosofia de Ananda Marga também define outros gêneros, relacionados às maneiras de se cantar o kiirtan. Segundo o site HPMG Portugal (Hari Pari Mandala Gosthi – https://hpmg.anandamarga.pt), além do katha kiirtan, em Ananda Marga faz-se também: o akhanda kiirtan, feito em círculo, em sentido anti-horário, em ciclos de 3 horas (por exemplo, em retiros costuma-se fazer durante uma madrugada três a quatro ciclos ininterruptos, num total de nove a doze horas de kiirtan); o avartha kiirtan, feito nas seis direções (norte, leste, sul, oeste, cima e baixo), tendo cada direção uma intenção específica (veja abaixo, após o texto); e o nagar kiirtan, feito em espaços públicos (por exemplo, caminhando pelas ruas de uma cidade), como forma de introduzir o kiirtan a um público mais amplo ou para celebrar ocasiões especiais.
Jyoshna explica que o propósito de nama e pada kiirtan é “nos lembrar do Supremo, vivendo e respirando em cada um de nós, em todos os momentos e ocasiões”. Ela ressalta que o kiirtan proporciona um contato direto com Baba, sem intermediários. “Quando uma amante quer a sua Amada ou o seu Amado, ela chama o Seu Nome e se sente confortada, se sente ‘em casa’, ela sabe que não está só, que não importa o que aconteça, o Supremo está sempre com ela”. Portanto, ela afirma, “a presença divina é experienciada por meio da vibração sonora, da canção, do canto e das histórias. Todos esses estilos foram empoderados pelo Sadguru e, portanto, chamados de mantra siddha de ‘poder’”.
Portanto, argumenta Jyoshna, “não há tempo algum em que kiirtan não seja apropriado: o kiirtan pode ser usado em todos os momentos e a qualquer hora do dia e da noite. As pessoas tendem a pensar em cantar kiirtan quando elas se sente conectadas, quando precisam de ajuda, ou quando elas precisam imprimir um senso de auspiciosidade a uma ocasião”.
Gurucaran (Gustavo Prudente)
Intenções do Avartha Kiirta – retirado do site https://hpmg.anandamarga.pt/sobre-kiirtan/
Avartha kiirtan: é feito em 6 direções diferentes. Com cada mudança de direção, muda a melodia do Kiirtan. As 6 direções são: norte, leste, sul, oeste, para cima e para baixo. Ao cantar kiirtan nas 6 direções, espalha-se a vibração de Baba nam kevalam por todos os lados. As ideações específicas de cada direção são:
– Eu sou a personificação da sinceridade.
– Eu tenho um amor inato por Parama Purusa.
– Eu purifico a minha mente no fogo da devoção.
– Eu ultrapasso todos os obstáculos internos e externos.
– Oh Parama Purusa, leva-me para o teu colo
– Eu entrego tudo o que é meu para ti.