Giita, ou música, é uma das três práticas que compõe o samgiita. E o que vem a ser o samgiita? Um grupo de práticas artísticas ligadas à música. Além de giita, as duas outras práticas são vadya, música instrumental, e nrtya, dançar.

Como já sabemos, o kiirtan é a música que reflete diretamente Parama Purusa, o canto através do qual o devoto “proclama as glórias do Senhor em voz alta para todos ouvirem.” E essas glórias são proclamadas porque precisamos cantar, nos envolver com a melodia e dançar, para a realização de uma boa sadhana.

Quando Sadashiva introduz a ciência da prática intuitiva, ele tem em mente que deve haver ajustes na vida objetiva daqueles que seguem a sadhana do dharma. Na ausência desses ajustes, a mente pode ficar irritada e não permitir que o aspirante espiritual se concentre. Sadashiva se utiliza da música cantada, da música instrumental e da dança, artes do mundo objetivo para organizar a prática intuitiva e ajustá-la à mente de cada devoto, levando em conta também que cada pessoa tenta agradar a Parama Purusa em um estilo particular exclusivo para ela. 

Sadashiva parte do princípio que  a música deve estar imbuída de todo o impacto para atingir as camadas mais sutis da mente humana, atingir o mundo ectoplasmático. Para isso, sabe que as canções devem ter ritmo, melodia e significado para alcançar a alma.

Enquanto isso, tocar um instrumento deve servir para vibrar a mente, e dançar deve servir à expressar sentimentos psíquicos internos, o que na dança oriental é feito através do ritmo e dos mudras, que expressam plenamente os sentimentos, sem a necessidade do uso de palavras.

Na história vemos que grandes mestres, santos como Maharsi Narada e Mahaprabhu Caetanya Deva incentivaram a prática de giita, vadya e nrtya, assim como Baba:

 “Para o ajuste objetivo no mundo físico, Shiva propunha a canção, a dança e a música instrumental, de tal maneira que isso vibrasse diretamente no ectoplasma, para que o movimento do ectoplasma fizesse a conversão para o ponto que toca o ponto da alma. Isto é o porquê grandes pessoas de todas as eras encorajaram todos os três aspectos da música”. Trecho do livro A Few Problems Solved Part 3.

 O ser humano traz em si a vontade de sair de um estado grosseiro, cada vez mais, para um estado sutil. O kiirtan “sutiliza” a música, imprime a ela uma ideia de bem-aventurança e elevação espiritual. Quanto mais sutilezas o ser humano alcança, mais sutil ainda ele deseja estar. E assim é que surge a ciência estética, do processo do esforço artístico de sair do bruto para o sutil.

A apreciação da beleza estética sutil no canto, na melodia e nas danças como o tandava, introduzido por Shiva, depois lalita lasya, ou lalita marmika, desenvolvida por Parvatii, sua esposa, e ainda o kaoshikii, criado por Baba, são instrumentos de ajuste da mente a essa energia mais sutil. E uma vez que essa energia mais sutil é alcançada, as pessoas passam a deixar de buscar as expressões mais rudimentares da vida.

Então, é muito importante praticar essas três expressões artísticas.

Nas próximas edições vamos dar sequência a este texto, falando em detalhes das três danças que nós utilizamos no caminho da bem aventurança, na filosofia de Baba: tandava, lalita marmika e kaoshikii.

*texto basedo em Samgiita: Song, Dance and Instrumental Music [a compilation] (tradução livre, Samgiita: canto, dança e música instrumental, uma compilação), por Shrii Shrii Anandamurti

Por Laksmii (Luciana Lima Lopes)

Ilustração Maryam Mughal