É de cima do morro da Boa Vista, no município fluminense de Araruama, que Krsna, também conhecido como Kiko, 38 anos, admira o nascer do sol e seu poente. Enquanto pratica asanas e meditação, sozinho ou acompanhado, desfruta da paisagem inspiradora composta pela cidade, a floresta e uma grande lagoa.

Há seis meses de portas abertas, o Espaço Uday de Yoga oferece aulas e encontros de meditação, e tem sido porta de entrada para que pessoas da cidade entrem em contato com a filosofia de Ananda Marga. “As pessoas estão procurando contato com a espiritualidade e encontram isso no yoga. Mas o meu caminho foi diferente”, ele conta.

Decididos a ter o segundo filho, Krsna e a esposa, Roshnii, Renata Martins Babo, encontraram no yoga a atividade física adequada para uma gestação e parto saudáveis. “Foi essa filha, Manika, hoje com 4 anos, quem nos levou a Baba. Intuímos ser uma condição que nos foi colocada – a de que ela nascesse numa família iogue”, ele gosta de lembrar.

O contato com a filosofia da Ananda Marga se deu, no começo, com intensidade intelectual. “Tinha receio de venerar pessoas, me protegi nas informações”, diz, referindo-se à sua opção inicial de focar nos estudos filosóficos, e não na devoção. Então conheceu Dada Siddheshvarananda Avadhuta, um orientador com perfil bem prático, que o incentivou a aprofundar-se na meditação.

A prática de Krsna evoluía, mas com alguma lentidão. Ele ficou doente e passou três meses lutando contra um problema de garganta, sem vitória. Foi quando eliminou carne e álcool da sua alimentação e em poucos dias se curou. “Limpando e ajustando minha maneira de viver, notei que minha impaciência e extroversão vinham de um desequilíbrio hormonal. Quanto mais me dedicava às práticas, melhor me sentia. A disciplina é a mãe de toda ciência”.

Krsna e Roshnii fizeram um curso de formação de instrutores de yoga e uma nova maneira de viver despontou para eles. Com recurso financeiro e o terreno em mãos, eles empreenderam um negócio bastante alinhado com o propósito de vida da família, o Uday – Centro de Yoga e loja de conveniência de alimentação vegana e sutil. Em sânscrito, uday significa alvorecer e o empreendimento materializa o despertar de uma nova consciência do casal. “A loja é 100% verdade. Só vendemos o que consumimos. Temos muito critério e cuidado na escolha dos produtos”, explica ele. Há especiarias, grãos e cereais a granel, biscoitos, cosméticos naturais, livros, acessórios. Um sábado por mês, eles sediam eventos beneficentes para o projeto de uma escola neo-humanista, na cidade.

Para erguer a casa, eles chamaram uma arquiteta que trabalha com técnicas biológicas e recursos naturais locais. Com bambus e muita terra amassada, subiram as paredes. Com garrafas de vidro coloridas incrustadas nas paredes, a luz penetra o espaço. “Eu e meu pai trabalhamos juntos, com nossas próprias mãos. Houve muita luta, que é a essência da vida. Mas eu olho para trás e parece que não teve esforço algum”, conta ele, sentindo-se abençoado.

Tudo ali respira. Tudo ali concentra. A natureza do entorno conversa com o espírito de paz e aventurança do Centro Uday. O plano é ampliar o espaço e criar uma cozinha experimental para cursos, um restaurante e mais uma sala de meditação e aulas de yoga.

Em janeiro, realizaram o primeiro retiro de ekadashi, com práticas de silêncio, kiirtan e sadhana shivir, além do jejum habitual da data. Em março foi a vez do bem sucedido retiro “Vegan Yoga Detox”. “É importante compartilhar tudo aquilo que acreditamos e vivemos na nossa prática diária. Uma vez Dada Agryabuddhananda Avadhuta me disse: não se preocupe com as pessoas, elas vão chegar. E quando, e se chegarem, não se preocupe se vão praticar ou seguir. Seu caminho, Krsna, é mostrar”.

Todas as manhãs de segunda-feira é dia de meditação e kaoshkii, aberta a todos, sem cobrança financeira. Lá está Krsna, diante da fotografia de Baba, carinhosamente colocada no altar da sala. Ele conta que às vezes uma só pessoa aparece, e isso poderia ser motivo para desestimulá-lo. Mas ele se mantém firme em seu compromisso com Baba. “Quando me viro para o altar e estou de frente para Baba, com as pessoas ao fundo dançando, Ele me olha com um sorriso ‘Monalisa’ e me diz, ‘por que você se preocupa, por que deseja tanto, não é você quem decide, apenas faça a sua parte’. É um jogo nosso onde há muita confiança e isso me traz a consciência de que quando empreendemos com energia focada, o que buscamos nos encontra”.

Krsna deixa a sala. Um novo dia já raiou no horizonte.

por Taruna (Tatiana Achcar)

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