Mês de julho é o mês das férias: curtas e de inverno no hemisfério sul, longas e celebradas no verão do hemisfério norte. Foi nesse clima de pausa de escola, de viagens e encontros que conversei com Ghrii Acarya Devanistha (Jody Wright). Eu, em Florianópolis, SC (Brasil) no sul do país, visitando minha família, ela em sua residência, no norte de Massachusetts, nos Estados Unidos. Eu, cercada de filha e sobrinhos, ela, ao lado do marido e suas cinco filhas. Falamos de afeto, troca, apoio e gratidão, esse sentimento que provoca conexão com o divino e satisfação com a vida, vitalidade e otimismo.  

“Devanistha, a que você se sente grata?”, eu lhe pergunto. “Certamente por ter encontrado Baba tão cedo na minha vida. Eu tinha 19 anos de idade quando eu aprendi meditação e lá se vão 45 anos”, ela responde de imediato. A gratidão se estende a sua família, formada pelo marido, Prakash Laufer, com quem está casada há 42 anos, e por suas cinco filhas. “Agradeço ter podido adotar quatro delas e me sinto muito sortuda de terem crescido dentro de um espírito de muito cuidado. Não importa onde vou ou o que faço, eu sempre sinto um senso de cuidado. E tento trabalhar duro em direção a Baba, assim libero meus samskaras”.

Impossibilitada de engravidar, Devanistha adotou duas meninas, Ananda Mayii e Mahajoy, uma filipina e a outra africana. Após uma cirurgia, veio a terceira menina, Liina, de seu próprio ventre. E então Emily, a mais nova, mas a quarta a chegar na família, adotada de uma família de mãe branca e pai afroamericano, e por fim, Sundarii, que idade é a terceira mais velha, mas que foi a última a chegar, aos 11 anos, vinda de um orfanato da Ananda Marga, no Haiti.

Há 14 anos, quando sua filha caçula já era adolescente, Didi Devanistha se tornou Acarya de família, se responsabilizando por iniciações tanto de mulheres como de homens. No entanto, como membro de família, ela conta que tem tarefas e que precisa sustentá-la. Então, seu tempo é limitado, mas seu empenho é grande na realização da missão de Baba. Em sua cidade, Northampton, Massachusetts, EUA, a 3 horas de Nova Iorque e a 2 horas de Boston, ela compõe o coletivo local de ananda margiis, que mantêm um pequeno dharmacakra; presta ajuda em retiros regionais e nacionais; faz alguns trabalhos na organização de encontros internacionais setoriais; além de participar de grupos de estudo e eventos em Prout.

Devanistha trabalha duro, e o jeito que me conta sua história soa doce e determinado. Um de seus trabalhos mais antigos é em Prout. “Baba conversou comigo sobre Prout quando o visitei na prisão, em 1978, na Índia. Ele me disse que todos deveriam trabalhar para Prout, pois se as pessoas não têm comida, elas não podem fazer sadhana. Ter um sistema mundial sólido e solidário que garanta as necessidades de todos afeta diretamente o progresso espiritual das pessoas”.

Devanistha gosta de lembrar desse episódio tão profundo e definidor em sua vida. Fruto disso é o Women´s Proutist https://www.proutwomen.org/, um website destinado a mulheres com conteúdo político, econômico, social e cultural de alta qualidade, disponível em inglês e espanhol. Em paralelo, ela desenvolve, em companhia de uma equipe de escritores, um dos boletins mais antigos da Ananda Marga, o Rising Sun, também de empoderamento feminino, publicado duas vezes ao ano, acessível pelo Women´s Proutist.

Outro trabalho de grande fôlego é o de formadora de instrutores de massagem para bebês, ofício que aprendeu ao lado de Vimala McClure, uma irmã margii. “Quando Vimala foi pra Índia para um treinamento, trabalhou num orfanato e lá viu as meninas mais velhas massageando os bebês. De volta para casa, começou a praticar com seus filhos e desenvolveu um método próprio, incluindo massagem sueca, indiana, reflexologia e baby yoga”. (http://www.iaim.net/)

Ela nos conta que o ponto especial dessa técnica é que se faz a massagem com a criança, e não para a criança. “Os pais pedem permissão, a criança dá, é um diálogo. É uma massagem projetada para criar e aumentar a comunicação, o afeto e a apreciação entre pais e filhos. A partir de um maior entendimento sobre as necessidades do bebê, começa a aproximação e a relação melhora. É uma maneira de viver o amor”.

Devanishta, cujo nome significa ‘devota a Deus’, nos revela que observa, nesses 45 anos de meditação, que qualquer sadhaka experimenta altos e baixos na sua prática. “Há tempos de abundância na meditação e também tempos de seca na sadhana, onde temos que lutar. Acho que eu aprendi a lidar com esses tempos escassos e entendi que eles não significam que você parou. É apenas do jeito que é. Mas você deve seguir e as coisas vão se tornar melhores logo adiante, e novamente decairão. Nada permanece para sempre, são ciclos”.

Por Taruna (Tatiana Achcar)