De 13 a 17 de março de 2018 ocorreu em Salvador (BA) o Fórum Mundial Social. Avarya Jinanananda Avadhuta, Acarya Ranendrananda Avadhuta, Acarya Ranendrananda Avadhuta, Acarya Anindya Brahmacarii, Diinabandhu (Ben Assuly) e Lokesh (Luís Fernando Zen, cuja entrevista segue abaixo), ativistas de PROUT (Teoria da Utilização Progressiva), ministraram três palestras durante o evento.

D4all Journal – Como foi a participação de Prout e da Ananda Marga no FSM?

Lokesh – Foi um espaço de encontro de pessoas interessadas numa mudança social para este país. As palestras tinham o intuito de apresentar Prout como uma alternativa de organização social. O capitalismo todo mundo sabe que não está dando certo, e a galera que tem uma tendência para o social acaba não encontrando outras possibilidades nas teorias atuais, como comunismo ou socialismo. Então, as palestras foram bem práticas, falando sobre o que já acontece de Prout no mundo, e o que Prout pode propor de mudanças que podem devagarzinho transformar o sistema para outro, mais humano. Foi um espaço de resistência. Esse era o lema deste fórum – diferente dos outros, cuja ideia era “outro mundo é possível”. Este é algo como “resistir para transformar”, porque as forças da esquerda estão enfraquecidas. É um trabalho de formiguinha.

D4all Journal – O que já acontece de Prout, na prática, no mundo?

Lokesh – Por exemplo, Prout fala sobre democracia econômica, e onde isso acontece na prática hoje? Nas associações e cooperativas autênticas, que funcionam por auto-gestão. São os próprios trabalhadores que decidem o futuro do empreendimento. E quando você tem isso numa escala maior – por exemplo, numa comunidade com muitas associações e cooperativas – significa que as pessoas estão sendo educadas a deliberar sobre a economia local. Assim, elas se tornam capazes de participar em fóruns locais e em conselhos municipais que decidem aspectos econômicos do município.

A gente já teve, no Brasil, em várias prefeituras, o orçamento participativo. Começou no Rio Grande do Sul e foi se espalhando por algumas cidades do país. Quando essa linha de governança cai, entra uma outra que inibe isso, e onde já teve, hoje não tem mais. Eu participei do projeto de instalação de um orçamento participativo na Prefeitura de Teresópolis no Rio de Janeiro, por um ano. Foi um processo breve, depois o prefeito caiu e a gente saiu. Os debates foram profundos, cada um trazendo os seus argumentos para trazer os votos da comunidade para a sua proposta. Foi um momento muito especial, de ver a democracia econômica em ação. Pois é isso que ela prega: quando você tira do político a decisão sobre o recurso público, ela passa para o cidadão. Assim, você tira toda a força que hoje os políticos corruptos têm.

Um outro exemplo prático é a ideia de territórios sócio-econômicos, que devem buscar sua auto sustentabilidade, fazendo com que a produção e a economia local seja voltada para atender as necessidades da população, e não produzir para exportar, por exemplo. Um exemplo disso, que não evoluiu muito, por disputas políticas aqui no Brasil, foram os territórios da cidadania. O governo federal separou alguns territórios que tinham mais carências e começou a pensar políticas públicas especiais. O papel do político em Prout é apoiar essas iniciativas.

O objetivo do movimento de Prout global, que tem sede na Dinamarca, é fazer Prout ser conhecido nos próximos cinco anos. Como as pessoas vão ter Prout como uma opção sendo que a maior parte das pessoas não conhece? E quando conhece, é por meio de um monge de laranja, ou de pessoa que não tem a menor relação com movimentos sociais?

Por isso, vamos dar continuidade ao que fizemos no Fórum contatando as 120 pessoas cujos contatos pegamos. E, em seguida, vamos dar um curso online sobre Prout, quinzenal, com palestras num sistema de webinar, além de um treinamento e uma conferência de Prout, logo antes do retiro setorial de Ananda Marga, em julho. O curso será aberto, e não apenas para membros da Ananda Marga, e vai ter convidados especiais, com formações específicas – por exemplo: economista, agricultor, pessoas que estudam moeda social. Estamos terminando de estruturar e em abril vamos divulgar as datas.

D4all Journal – E dentro da Ananda Marga, onde você vê Prout sendo aplicado realmente?

Lokesh – Na unidade mestra de Ananda Kirtana, em Juiz de Fora/MG. O pessoal que está morando lá agora começou um processo que não existia antes, e que deve ter no máximo cinco anos, com diversos projetos, como plantação de orgânicos, agricultura agroflorestal e padaria. E em Campinas temos um grupo de extensão na universidade, que trabalha com cooperativismo. A gente tem as incubadoras de cooperativas populares, de costureiras, reciclagem, agricultura orgânica, que são coordenadas por margiis proutistas.

Saiba mais: A formação em Prout com webinars começará dia 14 de maio às 20h, com aula inaugural do Dada Jinanananda Avadhuta. Para mais informações contato@prout.io . Se você ainda não sabe o que é PROUT, Lokesh recomenda a leitura do “Democracia Econômica” de P. R. Sarkar e “Após o Capitalismo: democracia econômica em ação”, do Dada Maheshvarananda Avadhuta, editora Innerworld Publications (Lokesh se disponibiliza a enviar o livro pelo correio para quem não encontrar).

Além dos livros, existem alguns sites, no Brasil o www.prout.org.br estará com os links dos vídeos da formação. Outra referência indicada pelo Lokesh é o site www.proutinstitute.org.

Da Redação