Enquanto escrevo os perfis desta seção, percebo que no DNA de um anandamargii existe a molécula do viajante, de lugar e de tempo, e a noção de que estamos de passagem, aproveitando a paisagem, pois somos guiados por Ele.
Eu falei com Kamala Alister, a cantora de muitos kiirtans famosos, como é conhecida, enquanto ela estava em um retiro em Ananda Kiirtana, Brasil. Ela veio para este país para o casamento do seu enteado mais velho, Ajit Mozzini-Alister, com a brasileira Krishna Kali (Camila Mozzini-Alister).
Na bagagem ela trazia curiosidade, descoberta, desfrute, as mesmas qualidades que a aproximaram da filosofia de Baba e a levaram ao encontro com o guru, há 40 anos. Ela foi iniciada em 1978 e um tempo depois, ela ouviu que Baba havia saído da prisão e foi para os Estados Unidos. Mas Ele não pôde entrar no país. Então, Ele foi para a Jamaica, onde ela O encontrou pela primeira vez. Ela tinha algumas dúvidas sobre devoção à um guru, e no último dia, ela viu Baba durante um discurso do DMS: “Ao final, ele deu uma benção, o varabhaya mudra. Eu senti uma imensa energia em meu coração e me abri para uma profunda devoção. Por muitas semanas, eu fechava os olhos e podia vê-lo sorrindo, em bem-aventurança”, Kamala nos conta.
Na década de 80, Kamala era LFT e, durante esse tempo, ela começou a ajudar no jornal Prout Daily, em Washington DC, que abordava assuntos mundiais importantes sob a perspectiva de Prout. “Foi uma experiência maravilhosa de estar no coração da política dos EUA e aprender a olhar os acontecimentos pela luz de Prout. Muitas noites eu participava de comícios, discursos e reuniões na cidade. Pela manhã, a equipe do editorial reunia-se e discutia os eventos locais e mundiais e escrevia o jornal (manualmente, pois isso aconteceu antes dos computadores!). À tarde, eu saía caminhando por horas distribuindo as cópias ao redor da cidade”, Kamala explica. Baba também recebia o jornal toda semana na Índia.
Após frequentar a universidade por alguns anos, Kamala voltou à vida de LFT e passou cinco anos co-editando o diário Prout Star em Kansas City do movimento Women’s Prout. Posteriormente, ela também co-editou uma revista mensal, baseado na Califórnia, o Prout Journal.
Do jornalismo, Kamala migrou para as artes e, em 1986, foi uma das fundadoras do Inner Song (www.innersong.com), uma empresa de distribuição de músicas devocionais na Califórnia. “Naqueles dias, todas as músicas circulavam em cassetes. Não havia uma distribuição global, então as pessoas pegavam um cassete que gostavam e copiavam para seus amigos, mas os artistas não recebiam nada. Eu contatei músicos ao redor do mundo, ajudei eles a criarem lindas capas para seus álbuns, e criei uma mala direta que enviávamos para o mundo todo. Isso ajudou a aumentar a renda dos artistas e criou um florescer global da criatividade espiritual. Posteriormente, ajudamos a lançar o primeiro CD da Ananda Marga”, Kamala lembra, animada, já que ela mesma é uma entusiasta musicista de kiirtans, músicas infantis, e composições próprias, tendo gravado diversos álbuns. http://www.innersong.com/artists/kamala.htm
Em 1984, Kamala conheceu e casou com o acarya de família Ghrii Narada Muni Acarya. Na época, ele já vivia em uma propriedade de 20 mil metros quadrados (50 acres), uma unidade mestra nomeada por Baba que, coincidentemente, tem o nome dela: Ananda Kamala. Junto, o casal tem realizado uma porção de coisas bastante alinhadas com seu propósito maior. E eles vivem neste lugar desde então, criando os dois filhos de Narada e mais dois do casal.
Metade da terra é uma cooperativa familiar que abriga em torno de 10 famílias, algumas que são membros da cooperativa, outras apenas alugam as propriedades. Todos que vivem na terra seguem uma dieta vegetariana, e muitas famílias seguem as práticas da filosofia da Ananda Marga.
Na outra metade da unidade mestra está a escola Ananda Marga River School (http://www.amriverschool.org/) que foi criada há 24 anos. A base da pedagogia é o neo-humanismo, a prática do amor por todos os seres humanos, com comida vegetariana, meditação, yoga, e histórias baseadas na filosofia de Baba. A escola recebe ajuda financeira do governo e atende em torno de 150 estudantes, com 60 crianças na educação infantil até o 6o ano e um corpo de quase 40 funcionários.
Em um lindo vale com uma floresta tropical, um riacho, jardins e salas de aula confortáveis, a escola enfatiza criatividade, consciência global, serviço e espiritualidade. Toda a comida é vegetariana e as crianças aprendem meditação e yoga com a orientação da Avadhutika Ananda Tapomaya Acarya, que tem um papel fundamental na instituição. A escola é reconhecida pelo governo local, do qual recebe um pouco de financiamento, e mantém facetas únicas do neo-humanismo no seu currículo.
“A maior parte dos alunos frequentam o ensino médio da região depois de estudarem na River School”, Kamala diz. “E seus professores dizem até ser possível saber quais são os alunos que vieram de lá, desde o primeiro dia, por suas posturas de confiança, empatia e mente aberta. A escola tem três famílias cujo um dos pais era um(a) professor(a) do ensino médio, e que vieram pelo o que eles viram nos alunos que chegavam da River School. Assim, eles enviaram os seus próprios filhos para lá. Nós também temos professores que originalmente foram pais da escola. Eles ficaram tão inspirados por esta nova visão de educação, que tornaram-se professores e vieram ensinar na nossa escola.”
Nos últimos 15 anos, Kamala se envolveu na organização de muitos retiros da Ananda Marga na Austrália, assim como o festival Ananda Marga Mela, uma experiência de imersão para o público. Ela também tem realizado uma nova ideia, de inspiração de Narada Muni, um ávido surfista: com o filho Manikya, também surfista, eles começaram os retiros de Meditação na praia, há aproximadamente 6 anos. Estes retiros incluem meditação na beira mar na alvorada e pôr do sol, yoga matinal, com programas à tardinha e refeições sutis vegetarianas. Durante o dia, os participantes usam o tempo juntos surfando, nadando e caminhando na praia.
Kamala conta que seu nome significa “a pureza do lótus”, a flor que cresce na lama, mas que suas pétalas à prova d’água continuam limpas. “Na última vez que vi Baba na Índia, ele estava ditando Shabdha Cayanika, uma enciclopédia em bengali. No meu último dia de visita, no seu discurso dominical ele deu uma longa explicação sobre a palavra ‘Kamala’. Foi uma experiência muito tocante.”
É com essa pureza e frescor que Kamala encara uma nova fase da sua vida: dedicar-se mais a sua pequena família enquanto o filho mais novo termina o ensino médio em 2019. Ela diz o quanto ela tem apreciado a oportunidade de aprofundar-se mais na sadhana, ao mesmo tempo em que se abre para ver qual é a nova fase que sua vida irá trazer. “Eu realmente amei essa jornada da maternidade. Vamos ver o que Baba quer de mim agora”.
Por Taruna (Tatiana Achcar)