Enquanto as pessoas não tomarem medidas humanitárias para com os criminosos, é simplesmente um absurdo deixá-los descansando nas prisões como inúteis. O ambiente das prisões deve ser mais puro, mais humano”
(Shrii Shrii Anandamurtii, Sociedade Humana – parte 1)

Com este pensamento de Baba em mente, um grupo de professoras de yoga está fazendo a diferença em Porto Alegre. Anuradha (Ana Accorsi), Biana Lauda, Avadhutika Ananda Sushiila Acarya, Nandinii (Naíla Andrade), Nityá Devii (Nidia Marília) e Raginii (Renata de Lima) estão dando aulas em uma ala feminina de um presídio na cidade. A ideia surgiu em 2015, mas devido à burocracia, os trabalhos começaram somente no meio do ano passado. Atualmente, recebem semanalmente de 6 a 16 alunas, que vão por vontade própria, com diferentes graus de assiduidade.

O grupo se disponibiliza a ir à penitenciária uma vez por semana e atender a uma ala específica, que fica à parte das outras, por questões de segurança: a de mulheres que cometeram crimes contra crianças. Parece algo difícil, mas não para quem faz um trabalho com o coração. “A realidade prisional, para a maioria de nós, é um borrão. Eu nunca tinha estado numa penitenciária”, diz Anuradha. Ela explica que, por não conhecer aquela realidade, criava uma série de fantasias. Isso, entretanto, mudou após o início do projeto. “A gente começou a encontrar pessoas, mulheres que têm sua história de vida marcada por muitos tipos de violência”.

Essa experiência trouxe a Anuradha a consciência de que ela mesma poderia estar naquela situação, não fossem os privilégios sociais de que ela desfruta. “Elas são, em sua maioria, negras, pobres, moradoras da periferia, com pouco estudo. As mulheres, quando são presas, muitas vezes são abandonadas pelo parceiro e pela família, são esquecidas – além de abandonadas pelo estado. A pessoa comete uma infração, seja de que tamanho for, e vai para debaixo do tapete, onde a gente não a vê mais”, afirma.

Como forma de reverter esse ciclo de abandono, o grupo de professoras de yoga investe no afeto. “Quando a gente chega lá e vai passando por todas aquelas portas e revistas, parece que, ao mesmo tempo, a gente vai entregando os nossos preconceitos. Elas já têm muita gente para julgá-las. O afeto é o que a gente tem para oferecer” diz. Nesse contexto, a prática do yoga surge como uma forma de fortalecimento pessoal. “A gente tenta trazer sempre a reflexão de que, com a nossa força interior, a gente consegue estar bem, independente do lugar físico onde esteja; é possível ter uma qualidade de vida melhor e florescer a partir daquela situação negativa”, afirma Nitya.

Um dos desafios do projeto é manter a assiduidade pois, apesar do compromisso de estarem uma vez por semana no presídio, são frequentes os cancelamentos em cima da hora. O motivo? A falta de um funcionário responsável por acompanhá-las, que está em outra função naquele momento. O desconforto causado por esse tipo de imprevisto choca com os planos que a equipe tem para o projeto, como ter uma sala no local destinada para o yoga, decorá-la com plantas e criar uma biblioteca de autoconhecimento e yoga.

Mas, segundo Didi Ananda Sushiila, a falta de uma sala exclusiva não impede que, no local onde hoje são feitas as práticas, sinta-se uma paz profunda. “Não parece que estamos num presídio – é um espaço especial. Na primeira aula, fomos com um pouco de medo, mas quando acabamos foi emocionante, e choramos de alegria por realizar esse trabalho. Elas também são nossas irmãs e, com elas, podemos compartilhar essa prática de yoga maravilhosa”.

A linha mestra do trabalho é o yoga, mas as professoras utilizam ferramentas variadas, como a dança circular e outras práticas de cuidado, saúde e a conversa. Conversa, aliás, é um ponto muito importante do encontro, pois é quando as mulheres se sentem escutadas. E como forma de respeitar as crenças diversas, o projeto traz algumas práticas de maneira sutil e gradual – por isso, por exemplo, ainda não introduziram o mantra baba nam kevalam.

Segundo Anuradha, algumas mulheres relatam estar praticando o que aprenderam, e ela mesma já conseguiu perceber algumas mudanças positivas. Uma mulher, em especial, chamou a sua atenção: “Ela participou muitas vezes, e é como se o semblante dela fosse se tranquilizando. Percebo ela conseguindo interagir de uma forma mais consciente, com mais qualidade”. Segundo Nitya, “elas se sentem livres durante a prática e percebem os benefícios – a gente nota como elas ficam bem depois”.

Anuradha recomenda que se pessoas de outras cidades se inspirarem a fazer esse tipo de trabalho, escrevam um projeto e ofereçam à penitenciária local. E para quem se interessar em contribuir de alguma forma para o projeto, basta escrever para projetoliberdades@gmail.com

Da Redação

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